Dando sequência a nossa série de posts sobre ideias para startups, segue a Parte II, que trata das saídas de mercado para uma ideia e como notar os problemas ao redor e desenvolver soluções para eles. Para conferir a Parte I, clique aqui
Como nasce uma ideia para uma Startup? Parte II
Como você
saberá se há ou não saídas para sua ideia? Como você sabe se algo é o embrião de uma
enorme empresa ou apenas um produto de nicho? Normalmente, você não sabe. Os
fundadores do Buscapé, por exemplo, não perceberam em um primeiro momento o
quão grande era o mercado em que eles estavam pisando. Inicialmente, a ideia
era bem mais específica, anunciar ofertas de produtos de lojas de varejo. Eles
não previam a gigantesca expansão da ideia; ela forçou-se em cima da própria startup gradualmente
se tornando hoje uma exigência do mercado: você precisa ter seus preços online.
Tudo que eles sabiam é que “havia algo acontecendo”. E isso é provavelmente
tudo que Bill Gates e Mark Zuckerberg sabiam no princípio.
De maneira geral,
é evidente desde o princípio que há um caminho além do nicho inicial. E
existem pessoas que podem auxiliar na visualização desse caminho, caso ele não
pareça imediatamente óbvio e este tipo de auxílio é oferecido por aceleradoras
de startups e incubadoras de empresas.
Então,
caso você não consiga prever se há ou não uma saída para outros mercados, como
você consegue escolher entre ideias? A verdade pode ser desapontadora, mas
ainda assim, interessante: se você for do tipo certo de pessoa, você tem o tipo
certo de palpites. Caso esteja em uma das fronteiras da inovação tecnológica de
uma área que esteja mudando rapidamente, quando você tem um palpite que algo
vale a pena, você está provavelmente certo.
“Você
quer saber como pintar uma pintura perfeita? É fácil. Faça a si mesmo perfeito
e então pinte naturalmente” – Robert Pirsig
Não tenho
muita certeza sobre a validade deste conselho para pintores especificamente,
mas ela se encaixa bem na situação destes empreendedores. Com efeito, o melhor meio de ter boas
ideias é se tornar o tipo de pessoa que as tem.
Estar nas
fronteiras da inovação tecnológica não significa que você tenha que ser
responsável por impulsionar a área, você pode estar nesta fronteira sendo um
usuário. Não foi tanto pelo fato de que Zuckerberg era um exímio programador
que o Facebook pareceu uma boa ideia para ele, mas sim pelo fato de que ele
usava computadores o tempo todo. Se você perguntasse em 2004 a quase todas pessoas por
volta dos 40 anos se elas gostariam de publicar suas vidas semi-publicamente na
Internet, estas pessoas ficariam horrorizadas. Mas Mark já vivia online; para
ele era natural.
Paul
Buchheit, criador do Gmail, disse que aqueles que viviam nas fronteiras da inovação ‘’viviam no
futuro”. Combine isto com a frase de Pirsig e você tem:
“Viva no
futuro e construa o que está faltando”
Isto,
basicamente, descreve a maneira com que a maioria das startups começaram. Nem a
Apple ou Yahoo ou Google ou Facebook eram supostamente empresas em um primeiro
momento. Elas cresceram a partir de algo que seus fundadores construiram porque
haviam lacunas em branco no mundo.
Se você
olhar como esses empreendedores de sucesso tiveram suas ideias, normalmente foi
um estímulo que atingiu uma mente devidamente preparada, no momento certo. Drew
Houston, o fundador do Dropbox, percebeu que havia esquecido seu pen drive e
pensou “eu preciso dar um jeito de meus arquivos viverem online”. Muitas
pessoas já esqueceram seus pen drives. A razão que estes estímulos levaram os
fundadores a começarem suas startups foi que as experiências prévias destas
pessoas haviam os preparado a notar oportunidades.
O verbo
que você vai querer usar quando se referir à ideias em startups não é “imaginar”,
mas sim “notar”. As ideias que nascem naturalmente das experiências de seus
fundadores podem ser chamadas de orgânicas. E quase todas as mais bem sucedidas
startups começaram assim.
Isto pode
não ter sido o que você queria ouvir quando começou a ler esta série de posts.
Talvez você tenha esperado receitas de como surgir com ideias e ao invés disso,
estamos te dizendo que o segredo, se é que há realmente algum, é preparar sua
mente da maneira correta. Mas, por mais desapontador que possa soar, esta é a
realidade. E, de certa forma, é uma receita, só que é uma que normalmente leva
1 ano e não 1 semana.
Se você
não estiver em uma dessas fronteiras da inovação, você pode chegar alcançar uma
delas. Por exemplo, qualquer pessoa razoavelmente inteligente e familiarizada
com tecnologia pode, provavelmente, aprender a desenvolver apps para smartphones
em torno de 1 ano. Já que uma startup bem sucedida provavelmente vá consumir em
torno de 3 a 5 anos da sua vida, 1 ano de preparação até parece um investimento
razoável. Especialmente se você estiver procurando sócios como fundadores.
Você não
precisa aprender a programar para estar em uma área que esteja mudando
rapidamente. Mas aprender a manipular ferramentas computacionais significa que quando
você tiver uma ideia, você poderá implementá-las imediatamente. Não é
absolutamente necessário, mas é uma vantagem. É uma grande vantagem caso você
esteja considerando colocar uma rede social para estudantes de universidades se
puder ao invés de pensar “Esta é uma ideia interessante”, pensar “Esta é uma
ideia interessante. Vou tentar construir uma versão inicial esta noite”. É até
melhor quando você sabe manipular estas ferramentas e é um usuário, porque o
ciclo de gerar novas versões e testá-las nos usuários pode acontecer
instantaneamente.
O verbo “notar”
Uma vez
que você esteja “vivendo no futuro”, a melhor maneira de notar ideias para uma
startup é procurar algo que aparenta estar faltando. Se você realmente estiver
em uma destas áreas que mudam muito rapidamente haverá coisas que claramente
estão faltando. O que não será óbvio é que elas são ideias em potencial.
Portanto, se você quiser encontrar ideias para startups, não simplesmente ligue
o filtro “O que está faltando?”. Também desligue todos os outros filtros,
especialmente o “Será que isto poderia resultar em uma grande empresa?”. Haverá
muito tempo para testar isto depois. Mas se você estiver pensando nisso
inicialmente, poderá deixar de fora boas ideias e acabar se focando em ideias
sem um bom potencial.
A maioria
das coisas que estão faltando vai levar um certo tempo para ser notada. Mas
você sabe que estas ideias estão por
aí afora. Nesta situação, dificilmente você vai encontrar problemas sem
solução, caso contrário você estará em um momento onde o progresso tecnológico
parou. Você pode ter certeza que dentro de alguns anos, alguém vai encontrar a
resposta, que fará você pensar “Por que eu não pensei nisso antes? Era tão
óbvio...”.
Se você
soubesse todas as tecnologias que teremos dentro de 50 anos, você acharia a sua
vida atual bastante restrita, assim como se alguém do presente fosse enviado
para 50 anos atrás. Se algo te incomoda, se você se sente restrito de alguma
forma, pode ser que você esteja “vivendo no futuro”.
Quando você
achar o tipo certo de problema, você deve conseguir descrevê-lo como óbvio, pelo menos para você.
O que
significa, por mais estranho que possa parecer, que ter ideias para uma startup é
uma questão de enxergar o óbvio. O que sugere o quão estranho é este processo:
você está tentando ver coisas óbvias, mas que você ainda não viu.
Já que
você precisa desligar alguns filtros do seu cotidiano, pode não ser a melhor
maneira encarar o problema de forma frontal, como por exemplo, sentar e pensar
em ideias. Pode ser que o mais adequado seja manter um processo rodando ao
fundo, procurando por aquilo que está faltando. Trabalhe com problemas
difíceis, levados principalmente por sua curiosidade, mas note as lacunas não-preenchidas
e as anomalias.
Dê a si
mesmo algum tempo. Você tem um maior controle ao preparo da sua mente para as
ideias, mas você não terá muito controle sobre os estímulos que desencadearão o
processo. Se Bill Gates e Mark Zuckerberg tivessem se restringido a surgir com
uma ideia de uma empresa em 1 mês, o que aconteceria se eles tivessem escolhido
1 mês antes de suas ideias originais? Talvez eles teriam trabalhado em uma ideia
menos promissora. Drew Houston, do Dropbox, trabalhou em uma ideia menos promissora
antes: uma startup preparatória para os SATs (exames de admissão nas
universidades dos EUA). Mas Dropbox foi uma ideia muito melhor, tanto em seu
sentido pleno quanto pela compatibilidade com as habilidades de seu fundador.
Um bom
jeito de se policiar para notar boas ideias ao seu redor é trabalhar em
projetos que você acha legais ou divertidos. Se você fizer isso, naturalmente
criará uma tendência em preencher as lacunas vazias. Não pareceria tão
interessante construir algo que já existe.
Assim
como tentar pré-fabricar ideias tende a produzir ideias de baixo potencial,
trabalhar em coisas que poderiam ser confundidas com “brinquedos”
frequentemente produzem boas ideias. Quando algo é descrito como um brinquedo,
isto significa que contém tudo que uma boa ideia precisa exceto ser importante.
É legal/divertido e os usuários adoram. Mas se você “estiver vivendo no futuro”
e você constrói algo que os usuários adoram, pode importar mais do que as
pessoas de fora acham. Microcomputadores pareciam ser brinquedos quando a Apple
e a Microsoft começaram a trabalhar em cima deles. Eu não sou tão velho para
ter vivenciado esta era, mas meu pai costumava me dizer que o termo utilizado
para pessoas que possuíam seu próprio microcomputador era “hobbista”, que tinha
apenas por hobbie e o resultado todos
já sabem, portanto, não subestime a diversão e o interesse. O Facebook era
apenas uma maneira dos estudantes seguirem uns aos outros.
Fique
animado quando começar a receber críticas dos “sabichões” dizendo que sua ideia
é apenas um brinquedo, que lhe falta importância. Provavelmente é uma evidência
de que é uma boa ideia.
Se você
conseguir enxergar lá na frente (e geralmente você tem que fazer isso), você
pode transformar aquela frase “Viva no futuro e construa o que está faltando”
em:
“Viva no futuro e construa o que parece interessante”.