24 de janeiro de 2013

Como nasce uma ideia para uma Startup? Parte II



Dando sequência a nossa série de posts sobre ideias para startups, segue a Parte II, que trata das saídas de mercado para uma ideia e como notar os problemas ao redor e desenvolver soluções para eles. Para conferir a Parte I, clique aqui

Como nasce uma ideia para uma Startup? Parte II

Como você saberá se há ou não saídas para sua ideia? Como você sabe se algo é o embrião de uma enorme empresa ou apenas um produto de nicho? Normalmente, você não sabe. Os fundadores do Buscapé, por exemplo, não perceberam em um primeiro momento o quão grande era o mercado em que eles estavam pisando. Inicialmente, a ideia era bem mais específica, anunciar ofertas de produtos de lojas de varejo. Eles não previam a gigantesca expansão da ideia; ela forçou-se em cima da própria startup gradualmente se tornando hoje uma exigência do mercado: você precisa ter seus preços online. Tudo que eles sabiam é que “havia algo acontecendo”. E isso é provavelmente tudo que Bill Gates e Mark Zuckerberg sabiam no princípio.
De maneira geral, é evidente desde o princípio que há um caminho além do nicho inicial. E existem pessoas que podem auxiliar na visualização desse caminho, caso ele não pareça imediatamente óbvio e este tipo de auxílio é oferecido por aceleradoras de startups e incubadoras de empresas.
Então, caso você não consiga prever se há ou não uma saída para outros mercados, como você consegue escolher entre ideias? A verdade pode ser desapontadora, mas ainda assim, interessante: se você for do tipo certo de pessoa, você tem o tipo certo de palpites. Caso esteja em uma das fronteiras da inovação tecnológica de uma área que esteja mudando rapidamente, quando você tem um palpite que algo vale a pena, você está provavelmente certo.

“Você quer saber como pintar uma pintura perfeita? É fácil. Faça a si mesmo perfeito e então pinte naturalmente” – Robert Pirsig

Não tenho muita certeza sobre a validade deste conselho para pintores especificamente, mas ela se encaixa bem na situação destes empreendedores. Com efeito, o melhor meio de ter boas ideias é se tornar o tipo de pessoa que as tem.
Estar nas fronteiras da inovação tecnológica não significa que você tenha que ser responsável por impulsionar a área, você pode estar nesta fronteira sendo um usuário. Não foi tanto pelo fato de que Zuckerberg era um exímio programador que o Facebook pareceu uma boa ideia para ele, mas sim pelo fato de que ele usava computadores o tempo todo. Se você perguntasse em 2004 a quase todas pessoas por volta dos 40 anos se elas gostariam de publicar suas vidas semi-publicamente na Internet, estas pessoas ficariam horrorizadas. Mas Mark já vivia online; para ele era natural.
Paul Buchheit, criador do Gmail, disse que aqueles que viviam nas fronteiras da inovação ‘’viviam no futuro”. Combine isto com a frase de Pirsig e você tem:

“Viva no futuro e construa o que está faltando”

Isto, basicamente, descreve a maneira com que a maioria das startups começaram. Nem a Apple ou Yahoo ou Google ou Facebook eram supostamente empresas em um primeiro momento. Elas cresceram a partir de algo que seus fundadores construiram porque haviam lacunas em branco no mundo.
Se você olhar como esses empreendedores de sucesso tiveram suas ideias, normalmente foi um estímulo que atingiu uma mente devidamente preparada, no momento certo. Drew Houston, o fundador do Dropbox, percebeu que havia esquecido seu pen drive e pensou “eu preciso dar um jeito de meus arquivos viverem online”. Muitas pessoas já esqueceram seus pen drives. A razão que estes estímulos levaram os fundadores a começarem suas startups foi que as experiências prévias destas pessoas haviam os preparado a notar oportunidades.
O verbo que você vai querer usar quando se referir à ideias em startups não é “imaginar”, mas sim “notar”. As ideias que nascem naturalmente das experiências de seus fundadores podem ser chamadas de orgânicas. E quase todas as mais bem sucedidas startups começaram assim.
Isto pode não ter sido o que você queria ouvir quando começou a ler esta série de posts. Talvez você tenha esperado receitas de como surgir com ideias e ao invés disso, estamos te dizendo que o segredo, se é que há realmente algum, é preparar sua mente da maneira correta. Mas, por mais desapontador que possa soar, esta é a realidade. E, de certa forma, é uma receita, só que é uma que normalmente leva 1 ano e não 1 semana.
Se você não estiver em uma dessas fronteiras da inovação, você pode chegar alcançar uma delas. Por exemplo, qualquer pessoa razoavelmente inteligente e familiarizada com tecnologia pode, provavelmente, aprender a desenvolver apps para smartphones em torno de 1 ano. Já que uma startup bem sucedida provavelmente vá consumir em torno de 3 a 5 anos da sua vida, 1 ano de preparação até parece um investimento razoável. Especialmente se você estiver procurando sócios como fundadores.
Você não precisa aprender a programar para estar em uma área que esteja mudando rapidamente. Mas aprender a manipular ferramentas computacionais significa que quando você tiver uma ideia, você poderá implementá-las imediatamente. Não é absolutamente necessário, mas é uma vantagem. É uma grande vantagem caso você esteja considerando colocar uma rede social para estudantes de universidades se puder ao invés de pensar “Esta é uma ideia interessante”, pensar “Esta é uma ideia interessante. Vou tentar construir uma versão inicial esta noite”. É até melhor quando você sabe manipular estas ferramentas e é um usuário, porque o ciclo de gerar novas versões e testá-las nos usuários pode acontecer instantaneamente.

O verbo “notar”

Uma vez que você esteja “vivendo no futuro”, a melhor maneira de notar ideias para uma startup é procurar algo que aparenta estar faltando. Se você realmente estiver em uma destas áreas que mudam muito rapidamente haverá coisas que claramente estão faltando. O que não será óbvio é que elas são ideias em potencial. Portanto, se você quiser encontrar ideias para startups, não simplesmente ligue o filtro “O que está faltando?”. Também desligue todos os outros filtros, especialmente o “Será que isto poderia resultar em uma grande empresa?”. Haverá muito tempo para testar isto depois. Mas se você estiver pensando nisso inicialmente, poderá deixar de fora boas ideias e acabar se focando em ideias sem um bom potencial.
A maioria das coisas que estão faltando vai levar um certo tempo para ser notada. Mas você sabe que estas ideias estão por aí afora. Nesta situação, dificilmente você vai encontrar problemas sem solução, caso contrário você estará em um momento onde o progresso tecnológico parou. Você pode ter certeza que dentro de alguns anos, alguém vai encontrar a resposta, que fará você pensar “Por que eu não pensei nisso antes? Era tão óbvio...”.
Se você soubesse todas as tecnologias que teremos dentro de 50 anos, você acharia a sua vida atual bastante restrita, assim como se alguém do presente fosse enviado para 50 anos atrás. Se algo te incomoda, se você se sente restrito de alguma forma, pode ser que você esteja “vivendo no futuro”.
Quando você achar o tipo certo de problema, você deve conseguir descrevê-lo como óbvio, pelo menos para você.
O que significa, por mais estranho que possa parecer, que ter ideias para uma startup é uma questão de enxergar o óbvio. O que sugere o quão estranho é este processo: você está tentando ver coisas óbvias, mas que você ainda não viu.
Já que você precisa desligar alguns filtros do seu cotidiano, pode não ser a melhor maneira encarar o problema de forma frontal, como por exemplo, sentar e pensar em ideias. Pode ser que o mais adequado seja manter um processo rodando ao fundo, procurando por aquilo que está faltando. Trabalhe com problemas difíceis, levados principalmente por sua curiosidade, mas note as lacunas não-preenchidas e as anomalias.
Dê a si mesmo algum tempo. Você tem um maior controle ao preparo da sua mente para as ideias, mas você não terá muito controle sobre os estímulos que desencadearão o processo. Se Bill Gates e Mark Zuckerberg tivessem se restringido a surgir com uma ideia de uma empresa em 1 mês, o que aconteceria se eles tivessem escolhido 1 mês antes de suas ideias originais? Talvez eles teriam trabalhado em uma ideia menos promissora. Drew Houston, do Dropbox, trabalhou em uma ideia menos promissora antes: uma startup preparatória para os SATs (exames de admissão nas universidades dos EUA). Mas Dropbox foi uma ideia muito melhor, tanto em seu sentido pleno quanto pela compatibilidade com as habilidades de seu fundador.
Um bom jeito de se policiar para notar boas ideias ao seu redor é trabalhar em projetos que você acha legais ou divertidos. Se você fizer isso, naturalmente criará uma tendência em preencher as lacunas vazias. Não pareceria tão interessante construir algo que já existe.
Assim como tentar pré-fabricar ideias tende a produzir ideias de baixo potencial, trabalhar em coisas que poderiam ser confundidas com “brinquedos” frequentemente produzem boas ideias. Quando algo é descrito como um brinquedo, isto significa que contém tudo que uma boa ideia precisa exceto ser importante. É legal/divertido e os usuários adoram. Mas se você “estiver vivendo no futuro” e você constrói algo que os usuários adoram, pode importar mais do que as pessoas de fora acham. Microcomputadores pareciam ser brinquedos quando a Apple e a Microsoft começaram a trabalhar em cima deles. Eu não sou tão velho para ter vivenciado esta era, mas meu pai costumava me dizer que o termo utilizado para pessoas que possuíam seu próprio microcomputador era “hobbista”, que tinha apenas por hobbie e o resultado todos já sabem, portanto, não subestime a diversão e o interesse. O Facebook era apenas uma maneira dos estudantes seguirem uns aos outros.
Fique animado quando começar a receber críticas dos “sabichões” dizendo que sua ideia é apenas um brinquedo, que lhe falta importância. Provavelmente é uma evidência de que é uma boa ideia.
Se você conseguir enxergar lá na frente (e geralmente você tem que fazer isso), você pode transformar aquela frase “Viva no futuro e construa o que está faltando” em:

“Viva no futuro e construa o que parece interessante”.


23 de janeiro de 2013

Como nasce uma ideia para uma Startup? Parte I

Esta semana a PreInova apresentará uma série de posts sobre como é o processo de ideias no nascimento de uma Startup. O post de hoje trata sobre os problemas iniciais, como identificar sua ideia e o que precisa para ela decolar. Então aqui vai:


Como nasce uma ideia para uma Startup? 
O melhor jeito de conseguir ideias para uma startup é tentar não pensar em ideias para startups. É procurar por problemas, preferencialmente problemas que você mesmo enfrenta.
As startups mais bem sucedidas costumam ter três coisas em comum: são algo que seus fundadores realmente querem, que eles mesmos podem construir e que poucas outras pessoas percebem que vale a pena fazer. Microsoft, Apple, Yahoo, Google e Facebook todas começaram desta maneira.
Problemas
Por que é tão importante trabalhar em cima de um problema que você mesmo enfrenta? Entre outras coisas, existe a certeza de que o problema realmente existe. Parece óbvio dizer que você só deveria trabalhar em cima de problemas que realmente existem e, ainda assim, o erro mais comum cometido entre as startups é resolver um problema que ninguém tem.
Vamos tomar como exemplo um site que coloca galerias de arte online. No final da década de 90 começaram a aparecer vários sites seguindo este modelo de negócio. Mas o problema é: galerias de arte não querem estar online, pelo menos não naquele contexto. Não é assim que funciona a arte, as pessoas gostam de ver e principalmente comprar e vender obras de arte ao vivo. Mas por que tanto tempo e recurso foi dispendido para estes sites? Porque seus idealizadores não prestaram atenção em seus usuários. Era um modelo de negócio de um mundo que não correspondia à realidade.

Por que tantos empreendedores começam um negócio que ninguém quer? Porque eles começam tentando pensar em ideias para startups. Esta maneira de operar pode ser duplamente perigosa: produzem poucas ideias boas; produzem ideias ruins, mas que soam plausíveis o suficiente para te enganar e fazê-lo trabalhar em cima delas. Esta maneira de operar gera o que se pode chamar de ideias pré-fabricadas. Imagine um programa de televisão onde um personagem estivesse começando uma startup, os roteiristas teriam que inventar uma ideia para ele trabalhar em cima, mas ter boas ideias não é algo tão simples, portanto, a não ser que eles fossem extremamente sortudos, acabariam surgindo com algo que é plausível, mas que não é uma boa ideia.
Personagem Barney do seriado "How I Met Your Mother" com sua ideia batizada de "bro bibs".
Por exemplo, uma rede social para donos de animais de estimação. Não soa claramente ser uma má ideia, na verdade, parece ser uma ótima ideia. Não raramente donos de animais de estimação se importam bastante com seus animaizinhos e gastam bastante dinheiro com eles e com certeza muitas dessas pessoas gostariam de conversar com outros donos de animais. Não todos, mas se 2 ou 3% fossem visitantes regulares, você poderia ter milhões de usuários. Você poderia anunciar ofertas direcionadas e, talvez, cobrar por algumas funcionalidades do site.
O perigo em uma ideia como essa é que quando você passa pelo crivo de amigos donos de animais de estimação, eles não dizem “Eu nunca usaria algo assim”. Eles dizem “É, talvez eu consiga me imaginar usando algo assim”. Mesmo quando a startup começa a operar e o site está em funcionamento, soará plausível para muitas pessoas. Elas não vão querer utilizar, pelo menos por agora, mas elas conseguem imaginar outras pessoas querendo. Some esta reação ao longo de toda a população e você terá zero usuários.      

O Poço

Quando uma startup chega ao mercado, tem que haver pelo menos alguns usuários que realmente necessitam do que eles fazem - não apenas pessoas que se vêem usando o serviço algum dia, mas que querem urgentemente. Usualmente, esse grupo inicial de usuários é pequeno, pelo simples fato de que se há algo que tantas pessoas necessitam urgentemente e que isto pudesse ser feito com o esforço e recursos depositados em uma startup, provavelmente, já existe. O que significa ter que se comprometer em uma única direção: construir algo que muitas pessoas querem uma pequena quantidade, ou algo que poucas pessoas querem uma grande quantidade. Escolha a segunda opção. Nem todas as ideias deste tipo são boas ideias para startups, mas quase todas as boas ideias são deste segundo grupo.
Imagine um gráfico onde o eixo X representa todas as pessoas que podem querer o que voce está produzindo e o eixo Y representa o quanto estas pessoas querem. Se você inverter a escala no eixo Y, você consegue visualizar as empresas como buracos (concavidades). Google é uma imensa cratera: centenas de milhões usam e precisam muito. Uma startup começando agora não pode esperar excavar um volume tão grande neste gráfico. Portanto, deve-se fazer duas escolhas acerca da forma do buraco que você vai começar. Você pode cavar um buraco que é amplo, porém raso, ou um que é estreito, porém profundo, como um poço.
Lembra das ideias pré-fabricadas? Elas são normalmente do primeiro tipo. Muitas pessoas estão suavemente interessadas em uma rede social para donos de animais de estimação.
Quase todas as boas ideias de startups são basicamente do segundo tipo. Microsoft era uma delas, assim como o Facebook, que começou exclusivo para a Universidade de Harvard, que restringia a poucos milhares de usuários, mas que queriam muito.
Quando tiver uma ideia, pergunte a si mesmo: quem quer isto neste momento? Quem quer isto o bastante para usar até mesmo quando for uma versão protótipo feita por alguns caras de uma startup que eles nunca ouviram falar? Se você não conseguir responder à essa pergunta, a ideia é provavelmente ruim.
Você não precisa da pequena largura do seu poço por si só. É a profundidade que você mais quer; seu gráfico ficará estreito à medida que você for otimizando sua profundidade. Na prática, o link entre as duas coisas é tão forte que é um bom sinal quando você sabe que uma ideia vai ter um forte apelo a um grupo específico ou tipo de usuário.
Porém, o seu poço pode ainda não ser o suficiente. Se Mark Zuckerberg tivesse construído uma rede que tivesse um apelo somente aos estudantes de Harvard, não seria uma boa ideia. Facebook foi uma ótima ideia porque começou com um pequeno mercado e que tinha saída para outros. Universidades são similares o suficiente para expandir através delas, o Facebook iria funcionar em qualquer uma. Uma vez que tenha todos os estudantes de universidades, você consegue outros usuários simplesmente deixando-os entrar.
Mas é importante lembrar que nem toda ideia precisa ser brilhante para dar início à uma startup. Uma startup obtém sucesso oferecendo uma tecnologia ou serviço melhor do que se tem atualmente, e não é necessário nenhuma genialidade para isso na maioria das áreas.

Não deixe de acompanhar o blog, amanhã sai mais um post da série. Não deixem de comentar também.